Estranha Forma de Vida
De estrelas nos olhos fechados, percorro o mundo por oceanos e pontes até tropeçar em ti. Encontro a tua mão para pôr lá a minha. E olhar-te a olhar-me a amar.
Bebo as memórias de respiração suspensa e balanço entre cá e lá, flutuando pela realidade fora.
Fazes falta entre mim e a saudade que sinto tua a todo o instante.
Correm os aniversários, festejam-se casamentos e filhos, o natal, a páscoa e passam as quatro estações. Abandono o meu lar e a minha gente na procura de um lugar meu e só meu, onde me possa sentar, de manhã à noite, na cura deste coração sangrado e inanimado. Questiono o conceito dessa palavra "amor" enquanto falo contigo dentro do silêncio à escuta, embebido em cada minha palavra de prantos partilhados.
Como era bom poder seguir o sol e deixar o mundo!
Sou minúscula nesta multidão de povo que gira em compasso. Passo as noites em claro ou numa outra vida - sempre numa outra vida - até acordar pelos dias que já passaram e torno-me pó. Rodopio neste coração de salão vazio, sobre o mofo das tábuas de madeira podre do canto mais escuro e recôndito da alma. Afogada pelas memórias, torno-me fantasma do que fui e vivo entre os vivos fora de ritmo. Deixo os muros em volta erguerem-se e construo um novo lar. Para mim, para ti.
As tuas últimas palavras foram sufocadas pelo som das batidas do coração em ânsia e perdi-as pelas sílabas. O teu rosto apenas. Os teus lábios dançantes apenas. As palavras, essas, ficariam sempre na minha imaginação.
Sim, levaste tudo de mim. Mas, na calma da saudade, ainda espero a tua entrada por esta porta adentro e o rapto da minha alma.
Noutra vida ficarias, noutra vida ficarás.
E tu, como tens passado na solidão entre a gente?
Espreito o mundo. Somos velhos para sonhar mas novos para morrer.
Diz-me que serei feliz.
Deixa-me ir.
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