ESTRANHAS LUZES

Pelas nuvens um silencioso rastro
Seus insólitos raios agitava,
Seu olhar de mistério derramava
Na transparência do céu de alabastro.
Em arrebóis súbitos, tremulosos
Dos anjos as celestes almofadas,
O esconderijo seguro das fadas,
As nuvens cintilavam qual um astro.

Bem longe, no horizonte adormecido,
Invejando aqueles fogos estranhos
O sol mergulhava em secretos sonhos
Na tarde, que aos poucos, ia morrendo.
E o mar em chamas de vermelhas ondas,
Erguia os seus olhares às alturas,
Espreitava das nuvens as brancuras,
O facho luminoso se movendo.

Qual noiva que lentamente desfila
Sobre o tapete de pétalas de rosa,
Entre as trevas a lua tão formosa
Também sentiu queimar sua pupila,
De outra dimensão aquele lampejo,
Circular e inconstante, silencioso
Que fez da nuvem o espaço harmonioso
Co`as frias estrelas a dividi-la.

Noturnos seres, vultos fantasmais
Queriam juntos do vasto negrume
O radioso farol cheio de lume
Conhecer, porque eram anormais
Tantos movimentos na noite amena,
Tantos movimentos na noite mansa,
Do vaga-lume recriando a dança,
Parecendo naves angelicais.

Talvez aquilo fosse uma visão,
Ou resposta sem verbos que atormenta,
Efeitos bem claros de uma tormenta
Tão comuns naquela quente estação.
Enganos nascendo em vistas confusas,
Pois a noite não tem ardentes chamas
Em seu firmamento de negras lamas...
Era aquilo o Apocalipse de João?

Mas, tudo tornou-se apenas a imagem
Branda e estrelada das noturnas cenas,
As nuvens eram nuvens apenas,
Quando se apagou aquela sondagem.
Nasceram risos de escárnio depois,
Verdades e estudos trouxeram calma,
Pois a crença é o nobre alimento d`alma,
Que do céu ignora qualquer mensagem.

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