Eu vejo o mundo negro de dor
Eu vejo o mundo negro de dor.
O mundo está podre e ninguém dá por isso
a não ser o cego que o ouve queixar-se.
Pobre cego, que não enxerga a origem dos lamurios.
Pobre de quem vê, que ainda é mais cego que o cego,
por não querer ajudar toda a visão que tem.
Castigada seja a vida por tapar a boca, dos que vêem, com a corrupção.
Extinto seja o animal que apodrece a própria casa com ganância e indiferença.
Que a sua pele sirva para fazer malas, botas e coisas supérfluas
exatamente à imagem da sua personalidade.
E que a memória da sua personalidade
seja vandalizada e profanada e esgotada e roubada e cortada e construída e extinta e esquecida,
tal e qual como fizeram com tudo.
E que os seus filhos tragam esperança
gozando com a estupidez dos actos
que quase desgraçaram o que os seus pais pensavam pertencer-lhes e os seus filhos sabem ser de todos.
Eu vejo o mundo negro de dor
e vejo esperança nas crianças.
Que se veja o mundo negro de crianças
e com esperança na dor.
Rui Correia