Exercício pleno

Peter Pearson - Sleepy Eyes

Acertei no alvo do dia
 
cumprindo promessas
 
assumidas e inculpes
 
abrigatórias como manda a lei
 
eu sei
 
repletas de memórias intemporais
 
acidentes laboratoriais
 
refugiando-me célere
 
nas tuas contracurvas
 
pontificadas de rectas indeléveis
 
transgredindo qualquer rota
 
por onde se dirigem teus
 
sentidos únicos,insolentes
 
em cálculos perdidos
 
na simetria do tempo que nos
 
envolve sucessivamente
 
 
– Hoje ou amanhã
 
revelaremos nossos relevos jurisdicionais
 
com muitos abraços em sonolência
 
esquecidos na fronteira
 
das palavras escritas
 
desgovernadas, isométricas
 
sem escalas nem promessas
 
em que te desenho, natural
 
exacta, no exercício pleno
 
desta poesia onde transito
 
tanto mais quanto te necessito
 
quanto muito por fim
 
milimetricamente te desvendas
 
e eu,
 
porque quero
 
meteóricamente me aventuro
 
eufórico
 
perdido nesta conivência
 
que o tempo gasto em tom retórico
 
nos incita em tons de cumplicidade
 
 
– Suscita-me imediatamente
 
num beijo alegórico
 
uma lembrança diluída
 
nesta concertação amorosa
 
onde deixamos impressos
 
fragmentos compatíveis
 
de dois seres confortados
 
provavelmente consensuais
 
existencialmente convivendo
 
imparciais
 
rumo ao trajecto de vida onde
 
nos encurralamos sem mais atalhos
 
ou referendos
 
nesta prisão onde partilhamos
 
esta pirotecnia explosiva dos amores
 
que em nós se ergue
 
num cântico legítimo de fé
 
quase prioritária
 
tão feliz , instantânea, necessária
 
 
– Deixa somente conciliar-te
 
num tempo fragilizado pelas saudades
 
carregadas de longanimidade
 
Deixa que eu reprograme todos
 
os ventos de serenidade
 
Tome posse de tua cumplicidade embebida
 
nesta imaginação fiel quando te sinto
 
saciada de integridade
 
apaixonado-me pela feroz espontaneidade
 
que em ti perscruto e jamais me restrinjo
 
porque crio,
 
elaboro
 
imagino
 
fantasio e
 
debruçado às margens da noite
 
te espio… e nunca dissimulo
 
quero-te e jamais finjo
 
FC
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