FALSA APARÊNCIA

Pinta de branco o barro cru da jarra tosca.

Coloca-a numa sala entre sofás e livros raros.

Enfia-lhe flores vistosas, colhidas numa estufa.

Põe-lhe um selo, um carimbo, dá-lhe um rosto…

E terás falsa porcelana.

 

Traça a cinza veios em seu bojo,

Esfrega verniz. Na boca um aro dourado.

Coloca-a sobre um suporte de negro polido.

Dá-lhe lugar vistoso, na sala de visitas.

E terás belo mármore.

 

Deita-lhe água dentro.

Pouco a pouco…

Cai o verniz, abrem-se brechas na pintura.

Com o tempo, a fachada senhoril perdida deixa ver,

Seu verdadeiro perfil de barro tosco.

Raspa-lhe a tinta baça. Atira-a para um canto.

Jarra de barro cru, mesmo pintada a branco…

Depressa se adivinha. Não convence ninguém.

 
Do livro VIVENDO O POENTE
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