*FALSTAFF MODERNO*

In vino veritas

Quando eu morrer, ninguem lerá no craneo
      Se eu fui mouro ou judeu,
Se presava o _cognac_ ou o _Madeira_,
      Que soffrer foi o meu!

Ninguem dirá se era trigueiro ou louro,
      Se eu fui Pope ou Camões,
E os sabios não dirão, coçando a calva,
      A côr dos meus calções.

Não saberão dizer se foi a pipa
      O hotel em que vivi,
E se fazia sol ou aguaceiros
      No dia em que nasci.

Se, apoz a douda orgia, o meu enterro
      Pela manhã, sair,
Tu virás á janella bocejando,
      E em coifa de dormir.

E não conseguirás verter um pranto
      Do terno teu setim,
Em quanto os gordos padres irão lentos,
      Ressonando em latim!

Os annos jogarão com os mais craneos
      E o meu magro esqueleto
Uma especie de jogo das caveiras
      Dos coveiros d'Hamleto!

Ninguem, mulher, dirá que _funda magoa_
      Minou meu coração!
E eu mandarei pôr, por epitaphio!
      --Maldita indigestão!--

Mas que ideas tão negras! O que importa
      Rôa a terra mais um!
Depois da morte! o nada. Ó minhas lagrimas
      Não me estragueis o _rhum_!

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