Fantasmas

Fantasmas
A casa era velha, escura e desabitada era muito velha. Antes dos interessados na compra e como sempre faço, fui dar uma olhadela.
Nas ruas da aldeia ouvia-se um estranho burburinho, escondiam-se nos rostos dos habitantes murmurios quase calados que se multiplicavam à medida que a noticia se espalhava:
- Está alguem na "casa". De imediato percebi que havia história naquela ou daquela velha casa.
Olhei varias vezes para as pessoas que se afastavam, devagar como se quisessem saber quem eu era e, sei agora, também por medo da assombração. A casa fazia de certeza parte das lendas e medos daquela gente.
Após o ranger habitual das portas velhas e secas ao abrir e o arrastar de um amontado de papeis de publicidade misturados com cartas da EDP, antigas claro, atados com anos de teias de aranha, vi um corredor escuro com duas portas de cada lado, fechadas.
Tentava guiar-me através da luz do isqueiro que me queimava os dedos quando a meio do corredor uma subita brisa sem sentido me deixou de novo na escuridão.
Nunca acreditei em fantasmas nem em coisas parecidas.
Olhei para tras e vi a porta da rua fechada, não percebi aquela brisa sem correntes de ar.
Parado, no meio dum corredor escuro como breo, vozes baixinhas de pessoas lá longe e a porta fechada não sei como, era o local onde menos me agradava estar naquele momento.
Meia hora antes, num dos quartos escuros e vazios que dava para o corredor daquela casa velha um pensamento dizia para o outro:
- É hoje! Chegou o nosso fim. Um humano vai entrar por aquela porta e todos os medos que os nossos filhos temem serão reais. As histórias que lhes contámos são verdadeiras, cruéis.
E as duas almas tentavam esconder das crias que o contato temido com aquela especie horrenda, que destruia tudo o que tocava, que matava por prazer, que sobrevivia nos restos dos outros da mesma espécie, iria descobri-los e destruir a casa, destrui-los como tão bem sabe fazer.
Como podiam os humanos ter medo dos fantasmas? Não havia bombas, nem guerras, nem genocidios. Os fantasmas nao se matam uns aos outros.
O fantasma mau naquela casa velha de fantasmas era eu. E era!

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