Fecho a porta, e sonho

Fecho a porta.
No meio deste cubículo,
Sonho.
Sonhar é melhor que viver…
Não – que incoerência!
Sonhar também é viver,
A única forma de viver que conheço,
A única forma como sei viver.
 
Então no meio do cubículo
Permaneço.
Fito as figuras de mim
Serem quem sonham ser.
Fito-as, e só eu as posso ver.
Ninguém que aqui entrasse
As conseguiria ver,
Porque os meus sonhos são baços aos outros,
Porque os outros são cegos a eles.
Os sonhos são meus e só meus.
 
Continuo no meu cubículo.
O mundo só meu que criei
Aqui está e aqui permanece.
Abrir a porta? Não. Para quê?
Aqui posso ser eu.
Aquele eu dos sonhos que quero tocar.
Estendo as mãos, procuro agarrar
Aquelas silhuetas das figuras de mim,
Mas elas não são palpáveis.
Pois é! Elas não pertencem ao mundo concreto.
Não as posso possuir
Senão no mundo abstrato dos sonhos.
 
Então fecho os olhos.
E lá estão elas, lá estou eu
Sendo eu, sendo o que queria ser eu.
E assim vivo, em plena metáfora.
O mundo simbólico pertence-me
E nele consigo ser.
A porta continua fechada,
Não a quero abrir.
Não estou na escuridão, aqui há luar.
Esqueço a porta,
E continuo a sonhar.
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