A FRANCISCO CEZIMBRA

    Eu chegara de França uns quatro dias antes
    E via-me tão só n'um deserto sem fim,
    Lá deixara a alegria, amores, estudantes,
    Via a vida, aqui, negra adiante de mim.

    Que havia de fazer? Eu não tinha um desejo,
    Nada no mundo me podia estimular!
    Ai quantas vezes, ao passar junto do Tejo,
    Perdoa-me, Senhor! pensei em me afogar!

    Perdoa-me, Senhor! tu deves perdoar
    Pois para que me deste assim um coração!
    Tudo quanto via me dava que scismar
    De tudo tinha dó, de tudo compaixão.

    Ó meus amigos de Coimbra! que saudades
    Eu sentia ao pensar nos tempos d'illuzões!
    Porque chamaria eu agora, só vaidades
    Ao que outrora p'ra nós tinham sido visões?

    E conheci depois a phase lastimoza
    (Ó meus amigos certos, não m'a queiraes lembrar)
    Em que descri de tudo, até da meiga roza
    Que via entre velas, aos pés d'algum altar.

    De tudo ri então, Senhor, como um perdido
    Mas era um rizo mau, Francisco, que feria...
    Tu cuja alma em flôr ainda me sorria
    Como pudeste tu, meu rizo ter vencido?

1895.

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