Gritos no sertão

Gritos no sertão
(Jorge de Azevedo)

Ouçam o grito de desespero
Vindo da choupana onde os homens
Ainda não chegaram com cestas básicas
E nem vales que compram dignidades.

Ouçam! Uma virgem deixou de ser virgem
Sobre sacos de feijão e farinha torrada
E seus sonhos se esvaem na poça de sangue
Que deixa toda a farinha manchada.

Ouçam o grito de desespero
Da mulher, mais parece um espectro,
Ao ver a filha no chão jogada
E o padrasto fechando o zíper da calça poída.

Mais uma menina que vai para a zona
Trocar orgasmos por maço de cigarros,
Uma sandália de couro, vestido de chita
Uma noite de orgia deitada no barro.

Ouçam! Os políticos estão comemorando
Mais milhões surgem em suas contas do nada,
Resplandece Brasília, Lula saltita
Rumo à granja que lhe dá a mesada.

Enquanto brindam com espumantes
Lá no sertão, outro grito desesperado...
Mais uma virgem deixou de ser virgem
Trocando sonhos por alguns trocados.

Natal, 12 novembro 2005

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