A GUERRA

A GUERRA…

 Falar deste tema a pessoas que nunca foram e viveram a guerra é perder tempo. No entanto, há que ter memória, dos que lá passaram e dos seus familiares. Eu tenho memória, nós temos memória. Quem passou pelo teatro das operações militares não esquecem aqueles tempos. Esquecer é o verbo inverso de lembrar.

Muitas famílias choram os seus mortos, os seus estropiados, sofredores de stresse pós-traumático. Os que fugiram, os que se esquivaram à guerra, os cobardes, que se esquivarão à guerra, foram considerados muitos deles heróis, mas os que morreram, as vitimas em diversos aspetos, os que serviram a Pátria Portuguesa com sangue suor e lágrimas, foram abandonados e desprezados só faltou chamarem-nos mercenários, fascistas e reacionários.

 Não conheceram, nem hoje conhecem aqueles territórios, o sentir nos seus pés o capim, passar pela lama das bolanhas, com água até à cintura, não viram os crocodilos a espreguiçar-se ao sol, na beira dos rios, não ouviram todos os dias bombardeamentos, nem o batuque nas tabancas, nunca almoçaram na casa dos nativos, nem os sons das granadas nem os tiros das G3, nem costureirinhas do IN, nem pisaram ou passaram ao lados das armadilhas, nem sentirão, nem viram os efeitos dos foguetões terra-ar do IN, que começaram a abater os aviões da Força Área Portuguesa. Não viram os répteis mortíferos de nome surucucu, a saltar das palmeiras e atacar os nossos combatentes, comeram peixe da bolanha, nem rações de combate, nem muitos quilos de arroz e massas, nem atum e ovos em muitos dias.

 Não deixaram de comer bacalhau com couves e batatas na Noite de Natal. Nunca souberam o que era a cacimbada, que no fim da noite de serviço e nas operações militares, a farda verde e parda, estava completamente encharcada. Não sabem o que é passar a Quadra e Ano Novo em alerta e prevenção rigorosa, dentro de uns hectares de arame farpado, sem saídas dos Quartéis e idas à Metrópole, com receio de um possível ataque do IN.

 A guerra é um inferno de dor e sofrimento, em que todos perdem e ninguém ganha. Chorámos os amigos, da escola primária, secundária e universitária, que estiveram ao nosso lado, que na boa-fé, à comungar com os valores Pátrios, que ficaram abandonados dos poderes políticos e as forças dos independentes que nos seguiram, sem dó, sem piedade, os familiares que os mataram.

 Alguns Municípios, ainda recordam os nossos mortos, com monumentos e painéis com os nomes de todos os que morreram nesses concelhos como aconteceu nos Caminhos do Ferro da estação do Fundão. Ali estão todos os nomes de militares que deram a vida pela Pátria, do Concelho, a suas naturalidades e a província onde prestavam serviço militar.

A Liga dos Combatentes pegou nas listagens dos mortos em combate e colocou num memorial referente às vítimas da Guerra em Pedrouços (Belém), Lisboa, como os nomes dos militares que foram vítimas da guerra, naqueles territórios Africanos.

Tem feito grandes esforços para trazerem para Portugal os restos mortais sepultados, nos improvisados cemitérios, onde tiveram em Portugal, uma sepultura digna, dignidade que deram a muitas outras campas, principalmente na Guiné-Bissau e Moçambique.

Apareceu a primavera Marcelista, mas as flores murcharam, ficando-se com as conversas de família, encravadas nas Brigadas do Reumático e os ultraliberais. Não souberam ouvir a voz de novos tempos.

 As entidades políticas e militares, como não ouviram a voz dos tempos do General Spínola, vias governo do Senegal, que quis conversar com o Presidente Senhor e como movimento independentista do PAIGS, para o acordo entre cavaleiros. Nas ligações em Lisboa, com Marcelo Caetano e o Almirante Tomás.

 O General Spínola veio a Portugal para conversações numa relação política para as guerras, mas ninguém seguimentos às suas propostas, depois de diversos contactos informais com o Governo do Senegal e PAIG. Publicou Portugal e o Futuro, seguiu-se o 25 de Abril de 1974 e tudo se precipitou, com o drama de milhares de “retornados a regressar a Portugal, militares nativos a serem fuzilados, sem dó, nem piedade e enterrados em valas comuns e tropas cubanas que pilara o que tinha valor.

 Também a ADFA - Associação das Forças Armadas, tem sido uma voz incómoda para os poderes instalados e para uma sociedade que esqueceu e não sabe as mazelas de muitos milhares

 

 Há ainda dias, celebrou-se o Dia Internacional do das Vitimas do Holocausto, com uma exposição itinerante que está em Madrid, com estradas gratuitas dos alunos das escolas. Com tantas Fundações a receber dinheiro do erário público, não haverá uma que se disponha com todos os meios fazer uma exposição pelas escolas e comum idades nacionais, com as temáticas da guerra colonial.

Como escreveu Josph Joubert , “ a MEMÓRIA” é o espelho onde observamos os ausentes, Margarite Yuorcenar diz-nos, “quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque é o presente, porque ele é presente, tal como sobrevive na MEMÓRIA humana.

Segundo Confúcio, a nossa maior glória, não reside no facto de cairmos, mas sim levantarmos sempre depois de cada queda.

Esquecermos, queimarmos o nosso passado histórico e nada sobejar, aqueles que não sabem o que foi uma guerra, que tudo devora, digo-lhes que é uma imagem infernal, é o inferno da guerra.

 Não estejam à espera de todos os milhares que por lá passaram para a descartar. Tenham
MEMÓRIA…

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Fevereiro/2018

 

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