Habituação
O pior de tudo é a habituação.
Enquanto não nos habituamos às coisas,
Porquanto não estamos ainda calejados
de tão bem as conhecermos,
Enquanto tudo ainda é novidade
E tudo está ali pronto a ser descoberto
como Ilhas Virgens prontas a desflorar,
Nesta altura as coisas são boas.
Com a habituação vem o cansaço,
A saturação da rotina.
A falta de novidade irrita-nos.
Começamos, lentamente, a transformar
o que antes admirámos
em pequenos ódios de estimação.
Metamorfoses doentes!
E isto sempre, sempre.
...Monótonas repetições.
Na vida, como em tudo.
Até no Amor - e principalmente neste -
O que o mata é a habituação.
Cessa a novidade, mata-se a curiosidade.
Passamos a amar em escalas de cinzentos.
Um monocromatismo morno,
nem quente, nem frio,
mas a arrefecer,
apodera-se de todos nós
sem excepção
e sem ter pena dos amantes.
"Crime Passional", diz o jornal.
"Discussão Conjugal Acaba em Tragédia!"
(Ah! O Sensacionalismo...)
Coitado! Foi a coisa mais romântica
que ele lhe podia ter feito.
E ficou ali, deitado, a beijar-lhe
a fronte inerte de cadáver
tatuada a vermelho-sangue
com a flor de lótus
do orifício de entrada da bala.
Cruel!
Ao menos neste dia, algo foi diferente.
Houve novidade. Saiu no jornal!
O povo indigna-se
e temos circo por uns tempos.
Comentários
Madalena
Sáb, 19/03/2016 - 17:18
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É triste amar assim... Nem
É triste amar assim... Nem quente nem frio, uma coisa inesplicável! Belo poema!
Abraços!