HOMEM FEITO MÁQUINA
O cérebro eletrónico adoeceu.
Há fios retorcidos, resistências queimadas.
Aquela caixa metálica, sempre disponível,
Começa a confundir-se, a errar os cálculos,
A não responder ao programado.
Um ser inútil, afinal.
O cérebro eletrónico morreu.
Sobre ele, debruçam-se, com olhar técnico,
Todos os que o utilizaram em vida.
Todos se interrogam e querem saber:
Que doença misteriosa fez parar,
A máquina inesgotável, sempre pronta,
Que se deixava só, num canto da sala
E, sempre se encontrava no regresso,
Imutável, preparada para responder,
Com um simples carregar no botão?
O cérebro eletrónico morreu,
- De velho?
(Perguntam uns sem acreditar).
- Faça-se a autópsia.
(Respondem outros).
E, para pasmo de quantos o julgaram conhecer,
Sob os fios requebrados e gastos,
Sob as resistências queimadas,
A máquina pensava e sentia.
E, lá no fundo, bem no fundo,
Escondido numa armadura, carcomida e gasta,
Esconde-se, esponjoso e cansado,
Um coração humano.
E, os técnicos, emitem seu comunicado:
- O cérebro eletrónico terminou sua missão.
Substituam-no.
Do livro VIVENDO O POENTE