Homo Democraticus

Na era pós-moderna o homem se enxerga como um fluxo interminável de ações e ideais, nada mais é fixo, moralista e impensável. Nunca foi tão permeável o conceito de autonomia na história, ainda que, por problemas gerados pela liberdade, a forma de se cravar existencialmente no mundo esteja em colapso. Concomitantemente, o homem, deparando-se nas miríades probatórias de suas escolhas, perdeu o processo de escolher: o paradoxo da escolha prendeu a liberdade em um “cardápio programado”, onde o estresse e a ansiedade apossam o livre-arbítrio. Destarte, mesmo que presos nas opções, há o imperativo da escolha, isto é, a possibilidade e responsabilidade de escolher a razão de se existir; é uma contradictio in terminis, pois pode-se rejeitar o cardápio e criar-se as próprias normas.
 
Existe explicitamente uma real democracia: se nega um, há outro; se nega ambos, tem-se nada ou o próprio. A pós-modernidade enterrou o imperativo da ordem vigente no processo de escolha, hoje o indivíduo existe de fato, diferente da modernidade industrial, vivendo cercado de máquinas e da cartilha moral: a pátria, a família, o trabalho e a decência.

Há, porém, o que os tradicionais chamam de “fim dos tempos”, mas que bom historicistas chamam de “problemas estruturais do momento histórico”. Como no passado houve problemas adornando a sociedade, hoje ainda contínua, mas com uma certa cegueira: o ser pós-moderno vê o presente como um instante de brilho, e o futuro o verdadeiro resplendor. O tradicional e o futurista bebem da mesma ilusão; o nostálgico passado idílico exagerado e inexistente contra o futuro utópico, cheio de promessas idealistas. Ambos não optam a ótica da realidade, o viés cognitivo e político os vedam dos “prós e contras” complexos de um sistema, isso ignorando processos capitalistas e políticas nacionais ao longo do tempo. O buraco seria mais embaixo. Por exemplo, a busca desenfreada pelo prazer só é realizável com dinheiro, portanto mais trabalho, e se mais trabalho, mais oferta o sistema capitalista deve dar. O que mais resume a pós-modernidade que o prazer? Por outro lado, só se pode ditar bulas tradicionais de como ser um bom homem ou bom cidadão estando na liberdade pós-moderna, pois no passado essa norma era unilateral.
 
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