HYMNO DA INFANCIA DESVALIDA

 

      Desherdados no berço de heranças,
      Desvalidos dos braços de mãe,
      Quem nos cérca o viver de esperanças,
      Nos educa, nos veste, e mantem?

                  CORO

        O Bom Deus que proteje a innocencia,
        De quem são nossos cantos de amor;
        Desherdada é sómente a existencia,
        Do infeliz que descrê do Senhor!

      Onde o bem? Onde o mal? nós no mundo
      Como iremos a vida encontrar?
      Neste valle enredado e profundo
      Quem nos ha de o caminho apontar?

        O Bom Deus que proteje a innocencia,
        De quem são nossos cantos de amor;
        Desherdada é sómente a existencia,
        Do infeliz que descrê do Senhor!

      Quem virá ser-nos pae na orphandade?
      Consolar nossos dias de dor?
      Circundar-nos depois noutra edade,
      De delicias, de sonhos, de amor?

        O Bom Deus que proteje a innocencia,
        De quem são nossos cantos de amor;
        Desherdada é sómente a existencia,
        Do infeliz que descrê do Senhor!

      Dos thesouros de affecto que encerra
      Entre vós maternal coração,
      Quem vos faz a nós orphãos na terra,
      Repartir d'esse affecto um quinhão?

        O bom Deus que proteje a innocencia,
        De quem são nossos cantos de amor;
        Desherdada é sómente a existencia,
        Do infeliz que descrê do Senhor!

      E esse affecto ideal que illumina
      O existir de um reflexo do ceo,
      Que a soffrer e que a amar nos ensina,
      Quem no peito materno o accendeu?

        O Bom Deus que proteje a innocencia,
        De quem são nossos cantos de amor;
        Desherdada é sómente a existencia,
        Do infeliz que descrê do Senhor!

      Mas nós crêmos, sentimos, amâmos,
      A Deus grande na terra e nos ceos,
      E do intimo da alma exclamâmos:
      Gloria a Deus! Gloria a Deus! Gloria a Deus!

1850.
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