Iceberg
Rabisco um poema
E escrevo no próprio coração
Sinto que escrever é como estar despida
Em alto mar ou numa constelação
Procuro a parte submersa
Do meu iceberg interior
Esse pedaço de alma esquecido no mar
Lapida-se na água
Como joia deixada no sepulcro.
As fagulhas das arestas brancas
Competem com as do sol
E com os sonhos de cristais
Da sereia triste
O firmamento perfuma-se de estrelas
E as nuvens correm por um céu mais cálido
O meu iceberg sobe
Mas afunda-se de novo
E seus pináculos de vidro
Corrigem elípticas no céu
É tão intenso o sentimento
Que me faço amiga das noites sem estrelas.
Procuro um atalho
Para que meu barco possa navegar
Em águas tranquilas
O Iceberg dos meus olhos
Esse bloco de gelo flutuante
Tomba sobre a água gelada
Enquanto o sol cobre a terra
De um sol radiante!
Zélia Neves