ILNÁ

No longínquo e brando vale
Que talvez ninguém conheça,
No cimo da rama espessa
Canta à mata o sabiá!
Mas... do riacho na fímbria,
Quando a sombra ali passeia
Da nuvem que se roxeia-
- melhor é o canto de Ilná!

Sentada na tenra alfombra,
C`os pés boiando nas águas
Ó, não afligem-lhe as mágoas
Que traz a vil solidão;
Ilná conversa c`oas flores,
E beija o vento arredio,
E nada nua no rio,
Como a filha do sertão!

Doçura é vê-la sorrindo
Entre os verdes laranjais,
Calando os profundos ais,
A qualquer um encantando.
Seu riso ilude as tristezas,
- é nota doce e inocente-
Que está na lira fremente,
Do vale ao redor reinando.

Ilná sorri – e quem pode
Em seu infantil olhar,
Um tíbio pranto encontrar
Ou brilho do padecer?
Quem pode senti-la farta,
Torva, tristonha, sisuda...
Quem pode pilhá-la muda,
O seu amor merecer?

Virgem da pele morena,
Como a filha de Tupã,
Ela é o sol da manhã,
Que entre o arvoredo transluz.
É lindo vê-la passando,
Tão longe dos pensamentos,
A contemplar os rebentos,
Na mata com seus pés nus.

Anjo de infinda bondade!
O mal jamais conheceu.
Ó, nunca o coração seu
À raiva deu moradia.
Só quer na sua candura
Brincar com as borboletas,
Cobrir-se de violetas
P`ra despi-la a ventania.

Ninguém conhece esta virgem,
de longos, negros cabelos
- noturnos fluxos tão belos-
Lago de gentis perfumes!
Ninguém conhece a amiga
Dos colibris, das abelhas
Dos brotos, das plantas velhas
Estrelas e vaga-lumes.

Ilná! que nome ditoso...
Que musa dos sonhadores!
Mal sabem as outras flores
Que Ilná é a predileta.
Tem ela o cheiro da terra,
A cor suave das frutas,
A paz que não há nas lutas...
O ardor que inspira o poeta!

POEMA ESCRITO EM 03/03/2007

Género: