IMPOSSÍVEL

Pode a mãe esquecer a luz primeira
De seu filho, que vem choroso ao mundo?
Não!... Como pode na aurora vernal,
Deixar em pranto a esguia laranjeira
A flor que dorme seu sono profundo,
Quando não contempla o dia ideal?

Impossível... banir dos sonhos lindos
O gládio que penetrou em minh`alma
E me enfeitiçou, qual uma serpente
Que seus olhos chamejantes abrindo
Encanta a pobre vítima com calma,
E rouba sua vida, de repente.

Ela é o segredo de uma quadra antiga,
Quando no mar azul as ondas fartas
Banhavam à noite os astros do céu.
Misteriosa e estranha, mas nunca amiga
Ela queria conhecer a morte
No frágil calor do suspiro meu.

Minha fonte de lágrimas constantes,
Como esquecer o prazer de existir
Nas tardes de uma louca mocidade?
Era um verão fagueiro e radiante,
De seu laço eu não podia fugir
- Ninguém tenta fugir da fl`icidade!

Seu olhar me instigava como à lua,
O violeiro chama a casta donzela
Co`a melancolia de seu cantar.
Inda vem-me o sabor da pele sua
Em noites vagas... sua sombra vela
Um lúgubre mancebo a lhe esperar.

Eu não consigo apagar da memória,
Nem a imagem desse anjo luminoso,
Nem de festejo meus poucos momentos.
Porque ela sempre foi a minha glória,
O vulto mais divino e mais mimoso,
A única fome e o único alento!

Sei que caminho trôpego no escuro,
Que o terrível precipício me traz.
Oh! Meus Deus, compreenda esta dor covarde,
E as vozes que neste destino duro
Dizem no peito – “Ela não volta mais!”
E que serei um bardo sem alarde.

Oh! Meus Deus, creio que estou maculado...
Impossível... Como no baile a dança
Repudiar em meio a tanto fulgor?...
Esquecer os olhares lado a lado,
Fazendo refulgir uma esperança,
Fazendo vicejar um triste amor.

POEMA ESCRITO EM 08/2002

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