Infinitamente

Aprendi com o tempo
 
a domesticar minha audácia
 
com sentido de vida
 
minha fúria confundida
 
no limiar da razão derradeira
 
 
Aprendi com a vida
 
como soletrar os dissabores
 
que o tempo impregna a alma
 
sem nunca ressarcir de poesia
 
todos os apelos que sustento
 
e domestico
 
sem flagelos que a morte tira
 
ou milagres que a vida
 
eu sei de amores jamais eu traíra
 
 
Aprendi a chegar com o vento
 
e partir com a multidão
 
em velada procissão
 
a nunca trocar minha eternidade
 
por um punhado de mediocridades
 
a retemperar as loucuras incompreensíveis
 
em actos soberanos
 
de confidentes instintos
 
tantos, quantos
 
desafios ou promessas tangíveis
 
eu quero e consinto
 
 
Aprendi a escutar
 
até as sombras que se desprendem
 
insólitas na precisão do tempo
 
e de mim
 
a caminhar no caminho
 
em cada aventura
 
que pressinto
 
e depois
 
assim preso a ti distraído
 
misturo nossas dialécticas apaixonadas
 
num cálice de instantes ritmados
 
e antes que a manhã nasça
 
e morra amanhã
 
eu tarde nesta noite
 
me achego simultaneamente
 
a cada açoite a ti ancorado
 
emprestando ao tempo que cessa
 
a luz atraente
 
que em folguêdos desmedidos
 
viaja até ao infinito…infinitamente
 
disponível e resplandecente
 
onde somente tu e eu existiríamos
 
camuflados em palavras que desabrocham
 
gota-a-gota
 
com graça e sabores deslumbrados
 
numa réstia de vida espontâneamente insaciável
 
FC
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