Io sono Leonardo

Io sono Leonardo

O retratista e o poeta são colados
calados em sua arte de artilharia
um pinta o que outro enxerga
o outro enxerga o que o outro pinta.
Neste ímpeto de se contar chocam
mãos tremulas e corpos pálidos
ao chão na passada da manada
arriscando serem atropelados pelo nada.
O dedo do retratista risca,
um risco com fé no íntimo do poeta,
arranhadura de pecado condenado
detentos dos sabores já provados.
Quem provou Mona Lisa teve
seu algoz pudor a revelar nos quadros
de traços que tem laços
sem aperto, só desprezo.
Passarinheiros de corações abandonados
abraçam mistério seus desejos fabricados
tem sede de retratar e relatar aos cântaros
os encontros tardios revelados..

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