Irmã da caridade (A HENRIQUE GOES)

I

Muitos, ao vel-a, estacam deslumbrados,
Ficam como suspensos d'esse olhar
Mais timido que os olhos dos veados,
Mais candido que os raios do luar.

Indifferente á propria formosura
Segue, porém, impavida, serena,
De habito negro como a noite escura
E touca branca como uma açucena.

A linha esculptural do seu perfil
É d'uma correcção incomparavel.
É alta, aristocratica, gentil,
De brandos gestos e maneira affavel.

E a Rubens, a Murillo, a Ticiano
Excederia certamente em gloria
Algum pintor que modelasse o arcano
Do seu busto de virgem merencoria.

II

É fria como a neve sobre o polo
E pura como uma alma de creança.
Olha uma rocha como olha um collo;
E-lhe estranha a tormenta ou a bonança.

Nem lhe estremece o labio virginal
Ao beijar a nudeza de Jesus,
O grande martyr, sonhador ideal
Que expira mansamente n'uma cruz.

Quando morrer na cella do mosteiro,
Á cova n'um esquife hão de leval-a;
Serão então os braços do coveiro
--Ultimos e primeiros a abraçal-a...

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