JERUSALÉM

Filha de Sião formosa
Levanta-me teus encantos;
Ó gazela cuja rosa
De Sarom cobre-te os prantos...
O nardo e a mirra preciosa
Alças no altar de teus cantos.

“Cantemos, irmãos, sem demora
Aos teus olhos de safira!
Que o frêmito em nós vigora,
Não há quem outra prefira.
Às vinhas, à que lhe implora
Em vagar no vale – a lira!

Quer nas faces de romã,
Quer nos jardins das nogueiras
Em toda parte a manhã
Tem os cachos das palmeiras
E as fitas feitas de lã,
Quais flores das laranjeiras.

Soa a trombeta no monte
A calcar os céus – trovão!
É com fragor no horizonte
Onde desperta o leão.
Abrem-se como uma fonte
Os pórticos de Sião!

De pendões tropas errantes
Marcham no som do clarim.
Davi, com gládios cantantes
Desce fogo no confim!
São muralhas seus passantes,
Sua torre é de marfim!

E quais ombros são seus muros,
Nenhum inimigo assola;
Jerusalém! Olhos puros
Que glória na fronte rola.
Ah! roça os vales escuros
A flama que em ti decola.

Palácios régios aos reis!
Tronos santos do saber
Onde estende suas leis,
Que ninguém pode esquecer
- Salomão – no templo o eis
P`ra tudo assim florescer!

Eis, porém, que o monte enluta
Uma nuvem de desgraça!
De espinho fez-se a conduta,
De carros encheu-se a praça.
Em teus pátios só se escuta
- Que justiça aqui se faça!

Choram as virgens cativas!
Lamenta, irmão, Jeremias!
Os dois anjos d`asas vivas
Turvaram-se em trevas frias.
Sobem nas aras altivas
Dos profetas – heresias!

Erra p`los vales a luz,
Que atrai multidões inteiras.
Ele é o salvador Jesus,
Morreu por nossas cegueiras;
Seu sangue tingiu a cruz
No monte das Oliveiras!

Oh! Jerusalém tão cedo
Níveas portas vão se abrir,
Em torno, onde uivou o medo
Teu ouro, enfim, vai fulgir.
Teu holocausto é penedo
Que o mar não deixa existir!

Em teus lagos cristalinos
De eterna vida a torrente,
Levará com santos hinos
O trono augusto e cadente.
Na árvore cheia de trinos
Vai se alentar o vivente!

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