JOAQUIM ALVES FERNANDES
JOAQUIM ALVES FERNANDES
No dia 22 de Julho faria 65 anos o meu Irmão Joaquim Alves Fernandes. “És o mais puro Martinho da Bismula”, dizia-lhe o Dr. Manuel Leal Freire, falecido há meses no Porto e nosso familiar.
A FAMÍLIA DOS MARTINHOS foi muito importante nas actividades económicas das gentes bismulenses, das aldeias limítrofes, porque negociavam na compra de animais, principalmente vitelos e vacas, comercializavam carnes e vendiam peles.
Segundo o nosso Parente e Historiador Dr. Leal Freire, as suas origens vinham das zonas de Belmonte, Caria, onde havia um refúgio de Judeus para fugir às Leis da Inquisição.
Naquelas bandas estavam os grandes comerciantes de peles, os peleiros, os comerciantes de carne de vaca, que possivelmente deixaram descendência na Bismula – a Família dos Martinhos.
Mais tarde, o meu tio António Alves Martinho, com apoio da esposa Célia, continuou os negócios de talhante na cidade da Guarda, no Talho Martinho, na antiga praça, onde actualmente funciona a Segurança Social e os Serviços da Câmara Municipal Egitaniense.
O meu irmão nasceu na Bismula, fez o primeiro ano na Escola Primária, onde estava instalado “O Clube” e se faziam grandes peças de teatro e sessões de cinema. Actualmente está lá a vivenda do meu falecido Primo Ibert Alves Martinho Ramos.
Recebeu o nome de Joaquim em homenagem ao nosso Tio Joaquim Alves Martinho, o homem que na Bismula fazia as matanças dos porcos e desmanche dos mesmos, com uma técnica de mestre, nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro, e as melhores aguardentes bismulenses, com um alambique de cobre, que não parava de verter o espirituoso líquido por toda a população. Sempre que necessário, estava disponível para o abate de qualquer animal.
Joaquim Fernandes ainda passou no Colégio do Abrunhal, perto do Monte da Senhora, na Cerdeira do Côa, das Servas de Jesus. Neste Outeiro de São Miguel esteve pouco tempo, dadas as condições precárias.
O Professor, natural de Aldeia da Ponte, era uma personagem terrífica. Deslocado para as bandas da Figueira da Foz, foi expulso do ensino primário pela violência exercida sobre as crianças. Actualmente seria recluso num Estabelecimento Prisional deste País. Muitos dos seus alunos da Bismula ficaram com marcas psicológicas para a vida futura.
Foi um Jovem Escuteiro, sempre Alerta para Servir, nunca para ser servido, com um longo percurso escutista, chegando a Chefe do Agrupamento nº62 da Ordem Terceira, nº 64 de S. José e nº 415 de Santa Maria da Graça. Pertenceu a vários Agrupamentos e à Fraternidade Nuno Álvares de Setúbal.
Foi sempre um ESCUTEIRO corajoso, denunciou sempre a mais pequena injustiça, sempre comprometido com o Dia das Promessas. Em 1975, no período do PREC, com a autorização da Administração, montou um posto de venda de objectos - livros, calendários, revistas escutistas -, à saída do Refeitório da Empresa dos Estaleiros da Somague, onde trabalhava na Mitrena. Recebeu ameaças, mas não se acobardou, lutou e venceu.
Trabalhou no Acampamento Nacional de Sesimbra, na sua arte de serralheiro, em Acampamentos Regionais, nos Jogos da Primavera em Setúbal, no Monumento ao Movimento Mundial do Escutismo, no Parque do Bonfim em Setúbal.
Tantas vezes se deslocou ao Fundão, Castelo Branco, onde realizou com os Escuteiros de Setúbal acampamentos na Serra da Gardunha, na Quinta do Tio Sebastião Clemente Lambelho e na Quinta da Nave de Cima em Aldeia de Joanes, de Manuel Bernardo de Campos.
Em Setúbal tem a sua neta Beatriz Fernandes, pioneira, sua delegada no movimento mundial escutista, que alguns pretendem não dar grande importância, mas tem, e de que maneira…
Também esteve na génese do Agrupamento de Aldeia de Joanes e ficou feliz, depois de tanta luta, por nascer mais uma escola escutista na Junta Regional da Guarda. É um facto indesmentível. Para quem tiver dúvidas, tenho documentos que o atestam.
Para os seus familiares e conterrâneos, é uma obrigação recordar esse dia, e também para os muitos Escuteiros um dever cívico lembrar este Homem que ajudou a formar muitos jovens em corpo e alma.
Nas férias, sempre que estava liberto das suas actividades laborais, vinha ajudar-me na minha “pobre reforma agrária”, trocávamos impressões e conselhos, para nosso mal nem sempre os aceitávamos.
CHEFE QUIM, MEU IRMÃO, tens muitos familiares, irmãos escuteiros, que ainda hoje me falam de ti, da formação, dos conhecimentos que lhes transmitiste e que te guardam no coração. Podia enunciar-te muitos nomes, mas tu sabes quem são. MEU IRMÃO QUIM, até qualquer dia…
António Alves Fernandes
Condeixa-a-Nova
Julho/2018