A LAMENTAÇÃO.
Como assim jaz e solitaria e quèda
Esta cidade outr'ora populosa!
Qual viuva ficou e tributaria
A senhora das gentes.
Chorou durante a noite; em pranto as faces,
Sósinha, entregue á dôr, nas penas suas
Ninguem a consolou: os mais queridos
Contrarios se tornaram.
Ermas as praças de Sião e as ruas,
Cobre-as a verde relva: os sacerdotes
Gemem; as virgens pallidas suspiram
Involtas na amargura.
Dos filhos de Israel nas cavas faces
Está pintada a macilenta fome;
Mendigos vão pedir, pedir a estranhos,
Um pão de infamia eivado.
O tremulo ancião, de longe, os olhos
Volve a Jerusalem, della fugindo;
Vê-a, suspira, cahe, e em breve expira
Com seu nome nos labios.
Que horror!--ímpias as mães os tenros filhos
Despedaçaram: barbaras quaes tigres,
Os sanguinosos membros palpitantes
No ventre sepultaram.
Deus, compassivo olhar volve a nós tristes:
Cessa de Te vingar! Vê-nos escravos,
Servos de servos em paiz estranho.
Tem dó de nossos males!
Acaso serás Tu sempre inflexivel?
Esqueceste de todo a nação tua?
O pranto dos hebreus não Te commove?
És surdo a seus lamentos?