Leia-me ou devoro-te
Escrevo para poluir o ar, para esfumaçar como num turíbulo a minha palavra. Sou um padre das liturgias sangrentas. A missa na qual comando, os fiéis são os meus sentidos. O tato demonstra o que espero: tocar-te no ventre dos teus segredos mais íntimos. Ser tão profundo quanto o abissal mar de tua individualidade. Sou uma musa já quase nua para o teu deleite, e para meu desejo, apenas o teu sentir mais puro. Tocarei tua lira d'alma e assim jamais me esquecerá.
Um vampiro que não exaure sangue, mas que é exaurido. Beberá dos meus versos o sangue decaído das minhas mãos. Viciará com o que digo. Minha voz perante ao crepúsculo da noite, olvidará a ti palavras de melancolia fria. Serei uma sombra sussurrando para ti que o fim está próximo. Tenha em vista que nunca me viste, mas me conhece. Fito quem lê e gosta. Eu só admito a verdade, apenas relato o que já sabem. Mas caso leia e ignore, tatearei como um verme à tua consciência. Um vírus letal brincando com a vida, nadando nas entranhas das células de teus pecados. Os reflexos dos espelhos já revelam o meu surgir. No teu pescoço aperto sufocando as dores do infinito.
Ore a mim e se perdoe. Posso livrar-te de ti mesmo e assim ser liberto da maldição: da poesia.