Lisboa, portuguesa

5.
LISBOA PORTUGUESA
Lisboa
envelheceste. não há como negar: as palavras decompõem-te
como se fossem vermes a sugarem-te o sangue, o que esperavas?
a ciência não te reserva milagres.
Lisboa
cercada pela noite atlântica, por crianças ruidosas e felizes,
que ainda acreditam em ninfas e caravelas
e em Lusíadas, crianças ruidosamente empenhados no futuro.
Lisboa
cosmopolita do Minho ao Algarve,
das artérias populares e dos roteiros turísticos,
dos carros que adormecem e rodopiam e desacreditam a cidade,
Lisboa tenuemente desviada do seu próprio destino.
Lisboa
não posso existir em ti
não posso esperar-te nas esquinas
quando todos sabemos que a poesia é um bem diferentemente inútil:
não tornou o homem menos imperfeito,
não impede a terra de conceber e devorar os seus próprios filhos e
o sol continua a iluminar, igualmente, justo e prevaricador.

Lisboa
parto sem truques, a filosofia nunca me fez companhia. não quero mais estar só.
Lisboa adormece, indiferente, como se a idade lhe tivesse ensinado
ser, a verdade de cada um, a mais universal das ilusões.

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Comentários

Poema sinestésico e filosófico sobre uma linda cidade onde eu gostaria de estar...

Cara Lourdes Ramos,

Apreciei muito o seu comentário.
Beijinhos