LYRA III.

De amar, minha Marilia, a formosura
Não se podem livrar humanos peitos.
Adorão os Heróes, e os mesmos brutos
Aos grilhões de Cupido estão sujeitos.
Quem, Marilia, despreza huma belleza,
    A luz da razão precisa,
    E se tem discurso, pisa
A Lei, que lhe ditou a Natureza.

  Cupido entrou no Ceo. O grande Jove
Huma vez se mudou em chuva de ouro:
Outras vezes tomou as varias fórmas
De General de Thebas, velha, e touro,
O proprio Deos da Guerra deshumano
    Não viveo de amor illeso;
    Quiz a Venus, e foi prezo
Na rede, que lhe armou o Deos Vulcano.

  Se amar huma belleza se desculpa
Em quem ao proprio Ceo, e terra move;
Qual he a minha gloria, pois igualo,
Ou excedo no amor ao mesmo Jove?
Amou o Pai dos Deoses Soberano
    Hum semblante peregrino:
    Eu adoro o teu divino,
O teu divino rosto, e sou humano.

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