LYRA VII.

Vou retratar a Marilia,
A Marilia meus amores;
Porém como, se eu não vejo
Quem me empreste as finas cores!
Dar-mas a terra não póde;
Não que a sua côr mimosa
Vence o lyrio, vence a rosa:
O jasmim, e as outras flores.
    Ah soccorre, Amor, soccorre
    Ao mais grato empenho meu!
    Vôa sobre os Astros, vôa,
    Traze-me as tintas do Ceo.

  Mas não se esmoreça logo;
Busquemos hum pouco mais;
Nos mares talvez se encontrem
Cores que sejão iguaes.
Porém não, que em parallelo
Da minha Ninfa adorada
Perolas não valem nada,
Não valem nada os coraes.
    Ah soccorre, Amor, soccorre
    Ao mais grato empenho meu!
    Vôa sobre os Astros, vôa,
    Traze-me as tintas do Ceo.

  Só no Ceo achar se podem
Taes bellezas, como aquellas,
Que Marilia tem nos olhos,
E que tem nas faces bellas.
Mas ás faces graciosas,
Aos negros olhos, que matão,
Não imitão, não retratão
Nem Auroras, nem Estrellas.
    Ah soccorre, Amor, soccorre
    Ao mais grato empenho meu!
    Vôa sobre os Astros, vôa,
    Traz-me as tintas do Ceo.

  Entremos, Amor, entremos,
Entremos na mesma Esfera.
Venha Pallas, Venha Juno,
Venha a Deosa de Cithera.
Porém não, que se Marilia
No certame antigo entrasse,
Bem que a Paris não peitasse,
A todas as tres vencera.
    Vai-te, Amor, em vão soccorres
    Ao mais grato empenho meu:
    Para formar-lhe o retrato
    Não bastão tintas do Ceo.

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