LYRA VIII.

Marilia, de que te queixas?
De que te roube Dirceo
O sincero coração?
Não te deo tambem o seu?
E tu, Marilia, primeiro
Não lhe lançaste o grilhão?
    Todos amão: só Marilia
    Desta Lei da Natureza
    Queria ter izenção?

  Em torno das castas pombas
Não rulão ternos pombinhos?
E rulão, Marilia, em vão?
Não se afagão c'os biquinhos?
E a provas de mais ternura
Não os arrasta a paixão?
    Todos amão: só Marilia
    Desta Lei da Natureza
    Queria, ter izenção?

  Já viste, minha Marilia,
Avezinhas, que não fação
Os seus ninhos no verão?
Aquellas com quem se enlação
Não vão cantar-lhe defronte
Do molle pouzo em que estão?
    Todos amão: só Marilia
    Desta Lei da Natureza
    Queria ter izenção?

  Se os peixes, Marilia, gerão
Nos bravos mares, e rios,
Tudo effeitos de Amor são.
Amão os brutos impios,
A serpente venenosa,
A Onça, o Tigre, o Leão.
    Todos amão: só Marilia
    Desta Lei da Natureza
    Queria ter izenção?

  As grandes Deosas do Ceo,
Sentem a setta tyranna
Da amorosa inclinação.
Diana, com ser Diana,
Não se abrasa, não suspira
Pelo amor de Endymão?
    Todos amão: só Marilia
    Desta Lei da Natureza
    Queria ter izençao?

  Desiste, Marilia bella,
De huma queixa sustentada
Só na altiva opinião.
Esta chamma he inspirada
Pelo Ceo; pois nella assenta
A nossa conservação.
    Todos amão: só Marilia
    Desta Lei da Natureza
    Não deve ter izenção.

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