LYRA XXIX.

O tyranno Amor risonho
Me apparece, e me convida
Para que seu jugo acceite;
E quer que eu passe em deleite
O resto da triste vida.

  _O sonoro Anacreonte_
(Astuto  o moço dizia)
_Já perto da morte estava,
Inda de amores cantava;
Por isso alegre vivia_.

  _Aos negros, duros pezares
Não resiste hum peito fraco,
Se Amor o não fortalece:
O mesmo Jove carece
De Cupido, e mais de Baccho_.

  Eu lhe respondo: _Perjuro
Nada creio ao que dizes;
Porque já te fui sujeito,
Inda conservo no peito
Estas frescas cicatrizes_.

  Amor, vendo que da offerta
Algum apreço não faço,
Me diz affoito que trate
De ir com elle a combate
Peito a peito, braço a braço.

  Vou buscar as minhas armas;
Cinjo primeiro que tudo
O brilhante arnêz, e á pressa
Ponho hum elmo na cabeça,
Tomo a lança, e o grosso escudo.

  Mal no Campo me apresento,
Marilia (oh Ceos!) me apparece:
Logo os olhos me fita,
O meu coração palpita,
A minha mão desfallece.

  Então me diz o tyranno:
_Confessa louco o teu erro;
Contra as armas da belleza
Não vale a externa defeza.
Dessa armadura de ferro_.

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