*MADRIGAL FUNEBRE*

Na mortalha alheia não temos mais que fazer
     Bernardim Ribeiro.

     To die to sleep.
     (Shakspeare)

A ti que os meus ais resumes
Estas quadras dolorosas,
Corpo inundado em perfumes,
E de pomadas cheirosas:

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A mim custa-me a morrer,
--Não por que esta vida valha;
Mas porque sei que heide ter
Teu coração por mortalha.

E, depois d'estes abrolhos,
Hei de ter a valla escura
Do teu peito, e esses teus olhos
Coveiros da sepultura.

Não terei pompas de pasmos,
Nem a estatua que lastíma;
E hão de mandar pôr-me em cima
Uma cruz dos teus sarcasmos!

E para que a morte atteste
Epitaphio de bocejos,
--E ao pé erguido um cypreste,
Nascido dos meus dezejos.

E ao ouvires as enxadas
No que morreu sem confortos,
Serão tuas gargalhadas
As ladainhas dos mortos.

E então ali que me rôa
O verme dos teus olvidos,
E não tenha uma corôa
E os teus cabellos fingidos.

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Ó filha vã de Magdala!
Quanto cadaver desfeito
Não tens lançado na valla
Voraz e fria do peito!?

Quantas crenças enterradas!
E que mortos, sem capellas,
Sem pombas, nas madrugadas,
Nem os prantos das estrellas!

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