Manhã
Não é verdade que uma vez vivi urna juventude amável, heróica,
fabulosa, digna de gravar-se em páginas de ouro? Incomparável
ventura! Por que crime, por que erro, vim a ser castigado com a
fraqueza de hoje? Vós que pretendeis que os animais solucem de
dor, que os doentes desesperem, que os próprios mortos sofram
pesadelos, procurai aclarar os motivos da minha queda e do meu
sonho. Quanto a mim, não posso melhor explicar-me do que um
mendigo com seus monótonos Pater e Ave Maria. Eu não sei mais
falar.
Todavia, agora, creio ter encerrado o relato de meu inferno. Era, não
há negar, o inferno; o antigo, aquele cujas portas o filho do homem
descerrou. Do mesmo deserto, na mesma noite, meus olhos sempre
cansados se voltam para a estrela de prata, sempre, sem que os Reis
da vida, se comovam, os três magos, o coração, a alma, o espírito.
Quando iremos enfim, para além das praias e das montanhas, saudar
o nascimento do trabalho novo, da sabedoria nova, a fuga dos
tiranos e dos demônios, o desaparecimento da superstição; quando
iremos adorar - os primeiros! - a Natividade sobre a terra?
O canto dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos
a vida.
Comentários
Rhodys de Rodri...
Dom, 07/04/2013 - 17:54
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A França devia ser bem feia
A França devia ser bem feia naquela época...