Memorial de Santa Teresa
Miserável e sagrada foi a vida que levei,
Buscando glória pela morte do Rei.
Leda idade fez-me só,
Dias que vivi de fé e pão de ló.
Dádiva cruel dada por Deus;
Encaminhar-me aos quinze à Ávila que tardou, mas amei.
Lá, damas e cavalheiros incitavam-me a abdicar o fervor.
Já não atraía o celibato aos olhos meus;
Todavia, doce mãe olhava-me sadia e das chagas me curei.
Só que cura pela carne cura pouco,
E malditas horas doentias retornaram.
Homem beato alertou-me para perto do palco,
Que mesmo em horas vazias, alma e espírito meus ali estavam.
Foi pelos conselhos do mesmo sangue
Que surgiu o empenho de uma Nova Fundação.
Bondade e alento foram extingues
Quando o rompimento atingiu Encarnação.
Assim começou a pobre vida;
Sem capital e sem sapatos, voltaram as feridas.
Indigente glória veio ao fim,
E em Medina, dois anjos à reforma incitaram estopim.
E assim de lutas, separações e conquistas vivi,
Construindo beatos cantos em que pouco residi.
A caminho de Tormes pressenti minh’ alma se despedir,
Com minha boca delirando pelos frutos que a figueira iria surdir.
Destarte, miserável e amena
Filha de Deus morri.