Metamorfose da noite

De olhos arregalados rolou ladeira abaixo
 
a tristeza desencantada cerrando as pálpebras
 
à noite que chega deambulando desleixada
 
no tráfego desta vida em metamorfoses
 
de solidão se esgueirando esfomeada
 
 
 
O que trago no vazio da alma
 
ficou revogado num estilhaço de silêncios
 
onde pernoito sem mais interregnos
 
vestindo o tempo de cambraia
 
enfeitando a luz da manhã que se despe
 
pra nós tão intima e dissimulada
 
 
 
A vida percorre todas as correntes de tempo
 
arrumando-se esquiva na partitura desta poesia
 
onde disfarço minhas tristezas em páginas
 
fustigadas de recordações alimentando
 
outras ilusões quando faço a autópsia à
 
alma desabrochando a cada momento
 
 
 
Valeu teu distraído sorriso enamorado
 
aparecendo ao raiar do dia
 
sentindo-te qual gemido em renascimento
 
olhando-te toda
 
desenhando um breve
 
fragmento de poesia onde condimentamos
 
todas as invasões deste silêncio
 
em romaria
 
bebendo-nos em extâses de carinho
 
num alfabeto de beijos moldados
 
na tapeçaria do amor  flamejando
 
insanamente
 
por cada porção do teu ser que
 
desfruto inevitavelmente
 
FC
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