METAMORFOSE DE UM POVO
A METAMORFOSE DE UM POVO
Gentes sorumbáticas nascidas nas sombras,
Curcundas de tanto peso dos dias sofridos,
Vendo a sua vida rasgada e espesinhada,
Por um tropel de cavalos loucos,
Vindos das gargantas onde nascem os tufões,
Foge um povo aos seus grilhões.
Raspando no chão como toupeiras,
Fazendo a toca onde se cobrem de pêlo,
E se escondem numa agonia,
Enroscados em casulos,
Perfidos e bolorentos,
Onde as sombras dançam a um ritmo frenético,
Ao som de vozes roucas e tremulas se ecoam,
Vindas de longe, onde o sol morre,
E o nascer de um novo dia não chega,
E não nasce mais ninguém,
A não ser vultos rastejantes,
Marfamoseando-se como insectos.
Um povo que já foi grande e gente,
E hoje enche de lágrimas um mar,
Que na ilusão navegue a caravela,
E perdendo-se não é ninguém.
(Carlos Fernandes)