MIDAS
MIDAS
No tempo
Em que as coisas eram o que eram
A naturalidade acontecia naturalmente
A noite era o adormecer do dia
E o primeiro raio de sol
O campeão das corridas à velocidade da luz.
As coisas eram o que eram
Sem razão nem porquê
A simplicidade,
No sentido simples da simplicidade,
Era a essência do choro sobressaltado do rio
Era a paciência da planície
Na intermitência da sua vontade.
Quando as coisas eram o que eram
Não havia sujidade,
Essa trouxe-a o animal do sentido
Que não se limitou a ser o que era,
A toque de Midas
Fez da nódoa o sinal
Da sua insuportável presença.
Agora as coisas
Em transcendência que não pediram,
São sujas,
E o bicho,
O do sentido,
Inventou a lixívia,
Nela desinfecta as mãos
Mas não o que nos olhos é olhar
E foge do próprio corpo.
O bicho que fez do mundo lixo
Tem nojo das ratazanas
Que em cândida naturalidade
Apadrinharam o seu filho.
Jorge Danado