Minudências

Estendo-me ao comprido na cama.
Tenho a alma caquéctica e
Há um pesar demasiadamente familiar
Que se me vai acometendo.
Sinto o peito a colapsar
Nesta manhã de melancolia invernal
Como de outra não há memória.

Ponho a música a tocar.
Nascem etéreas melodias depressivas
Suspensas no ar rarefeito
Cada vez mais insuportável de respirar.
Penetram-me as notas dessas harmonias,
Pesadas e graves, nos ouvidos dolorosos,
Comprimindo o meu intimo a uma lágrima.

Ergo-me da cama, penosamente.
Há uma cadeira que fita o horizonte
Através de uma janela de metro e meio por dois
(Tão maior que a minha alma).
Sento-me nela, com um vagar de deuses
Contemplo o fundir do verde vegetal ao negro citadino.
Apercebo-me do ridículo que sou...

Tudo parece continuar no seu ritmo
Alegre e alheio, omnipotente de tudo.
Só em mim esta apatia nunca muda,
Antes pelo contrário, se adensa,
Se condensa em lancinantes pontadas no peito.
O sol, misericordioso, brilha ao largo,
Mas sem nunca conseguir me atingir.

Sou um turbilhão, buraco negro
Sedento de toda a luz e matéria
A qual absorvo impiedosamente
Sem não me conseguir transformar.
Transformo-as eu, essa luminosidades,
Essas matérias físico-químicas
Em nadas imperceptíveis. Impreenchível.

Sorvo o veneno que me saliva na boca.
Tento conformar-me ao meu ridículo.
A esperança de que melhores dias virão
Põe-me o espírito ansioso em reboliço.
Continuo, impávido, a mirar pela janela
(Espelho mentiroso de minha alma).
Deixem-me ser, porra!

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