MULER

MULHER

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

Pergunta-se o Deus onde falhou,

Pobre diabo

Ignorante de si mesmo,

E tu,

Nasces de ti

Sem te teres por amparo

E choras de amor.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

És montanha onde dormem os ecos

De cegas súplicas perdidas

Sedentas de agradecer em sorriso.

Fazes das mãos melodia,

És o soar que cuida,

Pele alcova de milagres.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

O silêncio é lar do desejo,

Mil vezes te negas

E em maré cheia te ofereces.

És mestre do que sobra

Vulcão de sexo transbordante

Nascente que inunda de ternura

Regresso onírico à fatalidade.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

Tu sobejas,

És a máscara que preenche todas as telas

Sentada na plateia da vida.

Jogas os dados.

Rogando que o tempo os não corrompa,

Esperas a sorte do par

Que é completude da ausência que te habita.

 

És mulher

Por pecado mãe

Por vocação rainha,

Em ordem ao amor

Regaço da primeira dor

Senhora da morada do desejo.

 

És mulher

Concava por condenação,

Em ti recolhem os cansaços

A ti me levam os meus passos

E as mortes a que sucumbi.

És mulher

Sou homem

Fui primeiro por sorte

E em ti

Tive mais do que pedi.

 

Jorge Danado

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