Nada restou de mim

Nada restou de mim, nem o sol nem o jardim.

Tudo morreu, tudo partiu.

Tudo se foi, tudo sumiu.

Nem o brilho, nem o cheiro do jasmim.

 

Não sei de mim, nem sei se algo restou.

Tudo o que fui, eu já não sou.

Tudo o que fui, partiu e não voltou.

Tudo o que sonhei, se desmorenou.

 

Acabei deitada sobre o sangue que derramei.

Chorei por dias, tentei mas não estanquei.

A ferida que abriu, e porquê eu não sei.

Nunca fechou, só hoje sai e notei.

 

Sai ao mundo lá fora, a brisa doeu.

Tudo em mim se foi, tudo em mim morreu.

O vento soprou, no meu mundo choveu.

Dias sem parar, que mal lhe fiz eu?

 

Gostava de sorrir, não mais chorar.

Gostava de fugir, não mais voltar.

Gostava de viver, não mais morrer.

Gostava de te ter, não mais sofrer.

 

Eu sofro, e como sofro mudo.

Vagueio pelo mundo tão mudo.

Que me arrepia, me leva tudo.

Já nada tenho, meu coração está de luto.

 

Enterrei os restos que de mim sobraram.

Atirei fogo aos olhos que ainda choravam.

Matei as emoções que de mim restavam.

Calei as vozes que em mim habitavam.

 

Nada sou, ah, eu nada tenho.

Pobre alma destruida,

Um dia sonhara, com um engenho.

Agora acabada, possuída.

 

O diabo levou-me a alma.

E eu pedi a deus.

Mas ele não me acalma.

Abandonou-me a mim e aos meus.

 

Estou sozinha enquanto morro.

Fecho os olhos e percorro.

Deveria andar, mas hoje eu corro.

O inferno não quero, demasiado fogo.

 

Se queimar, deixem-me arder.

Se virar cinza deixem-me percorrer.

As encostas salgadas que me recusei a ver.

O mar que mil e uma vezes desejei beber.

 

Deixem-me partir, não chorem por mim.

Se chorarem, lembrem-se que não estou aí.

Para vos limpar as lágrimas e fazer sorrir.

Portanto partam, se eu partir, foi o fim.

 

 

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