NATÁLIA
O céu há de mostrar-me os teus castelos,
E a noite vai se erguer nos olhos belos
Da minha alva menina...
E, quando ela arquejar por entre o prado,
O vento vai lhe dar, como um agrado
Seu divã na colina.
Acorda com gorjeios a natura
Num sonho de esperança e de ventura
De estio nesta manhã;
Se o anjo que dourou minha jornada,
Murmura o doce amor com voz de fada,
Com infinito afã.
O céu há de verter meigos lampejos,
E morreremos no calor dos beijos
Que a alma nos inebria.
Meu olhar será o sol do dia ardente,
vou aquecer com meu fitar demente
A sua pele fria.
Nas formas de seu riso tão ditoso,
O mundo me parece esplendoroso,
Como um raro delírio!
Ela é filha do albor que me vela,
É pálida qual neve que enregela...
- ela é filha do lírio!
Talvez o gondoleiro seu serei!
Nos ares perfumados como um rei
Desta noturna Itália,
Vou libertar de meu peito este anseio,
Num grito que vai habitar seu seio:
- Como te amo, Natália!