Nau de Èbano

 Nau de ébano

 

 

Tive uma vida ...

... Intensa ... errática ...

Fui vagabundo ... vadio ... viajante...

Viajei meio mundo ...

e invejei os que viajaram o outro meio

Parti numa nau de ébano

e na minha mente permanecem  aromas indeléveis

aromas de especiarias ...  rostos e etnias

... Uma mulher de veste negra

não me deixou admirar a beleza

Que linda é a beleza do seu caminhar... pela areia do deserto

- Se calhar eras tu!!!

 

 

Dancei Salsa ... numa ilha distante...

E recordo ... o sorriso da adolescência

Fui vagabundo , vadio ... viajante

Viajei ... no sonho ... sem fuso horário

Sons e musicas acordam-me todas as manhãs ....

E olho o espelho e choro

Por não ter viajado contigo ... para lá do cabo das tormentas

Numa viagem sem retorno, por não querer voltar

... porque quero ser errante

Nas ruas de qualquer parte do Mundo

E contemplar a arquitectura do sonho

O Museu ... onde Mona Lisa se riu para mim ...

Torres altas construídas por mim

Para o meu olhar alcançar o infinito, e voar sobre os telhados

ver as estrelas de perto

Torre de Babel ... lenda de homens

Inventada para não nos entendermos

 

 

Meus olhos falam a língua universal ...

espelhos da alma!!!

Para que os vejas !!!...para que  entendas  !!!??

... Que o que vemos ... morre connosco

E ser errante é ser errante

È contemplar o anfiteatro da vida

Opereta cantada ... numa sala à luz de candelabros

Ópera escrita por um génio ... no silêncio da sua solidão.

 

 

E de meu corpo ...nasce uma obra

Que escrevi imperiosamente ... como se eu fosse também génio

Um poeta jamais esquecido ... um vagabundo ..um vadio

Que deixou a alma dormir ao relento ... viajante incansável

Que deu a volta a meio  mundo ... mas nunca te encontrou na multidão...

qualquer porto onde atraquei, a nau de ébano

o meu olhar divagou, na ânsia de te ver,

mas tu estavas do outro lado  do sonho

 

 

Queria editar um livro ... de poesia ...de metáforas

Queria que fosses a primeira a le-lo

Que fosses a crítica ... que fosses a página rasurada

Metáfora ... linha ... inacabada

Queria editar um livro ... em cada porto ...em cada língua

Para todos o lerem, depois de ti ...

 

 

 

 

 

 

E se te encontrasse ...num porto qualquer

Beberíamos vinho velho ... e partiríamos para um outro porto

Para visitar os anfiteatros e  museus

Subiríamos às torres e veríamos as estrelas mais perto

E voaríamos juntos  pelas constelações

 

... Serias a minha musa ...

num sonho de corais reluzentes

...águas tépidas  e claras, lavavam-me a alma

semicerro os olhos ao não querer acordar

a luz do dia,  traz-me de volta,

Ao porto onde atraquei ontem ... e à minha solidão ...

vou voltar para  a cidade que me viu nascer

Subir as sete colinas ... e esperar que um dia lá passes.

 

 

Já não quero mais escrever !!!

Porque ninguém vai ler o que escrevi ... um livro inacabado

Que queria que fosses a primeira a ler

Ninguém gosta de vagabundos e vadios!!!

Mas a minha alma anseia ... partir para outro porto

Na esperança, que esperes eu chegar ...

Sou cidadão de um mundo ... com tanto para contemplar

Mas queria que fosses comigo

Para que todos vissem a arquitectura do teu caminhar.

 

 

Vou percorrer a muralha da China ... que nunca lá fui!!!

Vou meditar,  e talvez um budista me dê guarida !!!

Vou subir os Himalaias e ser alpinista

Tocar os céus e  hastear uma bandeira de papel

Com a letra de uma canção

Para que quando o vento sopre

... A cante para ti... e talvez me encontres tu a mim...

 

 

Talvez encontre um porto ... onde as âncoras durmam em silêncio

E  aí fique para sempre ...

Talvez deixe de ser vagabundo...vadio ...viajante

E me deixe apaixonar por um país qualquer

Onde a minha alma... cansada ... queira por fim descansar

E deixe a nau de ébano... e parta num comboio

 (Porque gosto de comboios!!!)

Talvez até  Praga onde não há porto

Para que não sinta a vontade de partir.

 

Não sei se consigo ancorar a minha alma

Num País que não tem mar !!!

Não sei se consigo respirar,  sem o odor da maresia!!!

Não sei se consigo ficar mais que uns dias

Sem partir... sem sentir o mar ...

sou vagabundo ... vadio ... viajante

minha alma inconstante ... precisa de migrar

mas,  saudade ... só a sinto de minha pátria

de minha Lisboa ...dos eléctricos amarelos ...do cacilheiro

que me levará  à outra margem ... para subir bem alto

ao Cristo Rei e ver os telhados de Lisboa

... cidade que amo ...

 

 

vem, vem comigo ver o mundo

embarca comigo nesta nau de ébano

seremos ... vagabundos, vadios ... viajantes

dormiremos sob o céu estrelado

admiremos as chuvas da monção

e desembarquemos em Goa

pediremos especiarias , que guardaremos no porão

oremos a Xiva,  e tornemos imortais nossos sonhos

Gostava de passar o canal do Panamá

E navegar num outro oceano

Onde o pôr do sol se esconde de mim

E deixar-me ir ao sabor do vento

De velas arfando ... e ver onde me levava a corrente

E numa ilha qualquer,  colher uma semente

De uma flor exótica ... que plantaria quando voltasse a casa

 

 

Contemplei o sol da meia noite

E sem noite não consegui dormir

Noites de Copenhaga ...

Auroras boreais coloriam-me o sonho

De tons laranja e ocasos intermináveis

Minha nau de ébano

Permaneceu acostada no porto

E um dia imenso ... um sol que é o mesmo

Em todo o lado ...mas que brilha á meia noite

E tu estavas a meu lado

A ver ocasos de ternura e indeléveis nuvens de êxtase.

 

Procurei por ti, e tu lá estavas

Sempre perto de mim ... no final sempre estiveste comigo

E no meu intimo ... permanecerás

Embora sempre tenha sido ... um vagabundo

Um vadio ... um viajante... um solitário

 

 

Só escrevi para ti ... para tu leres

Não sei se acabarei este livro para ti ...

Tive uma vida ... vivida

... Intensa ... errática ...

Fui vagabundo, vadio ... viajante

Já percorri meio mundo ...

E deixei de escrever !!!

Porque ninguém vai ler um livro inacabado.

 

Agora que estás aqui ...posso terminar a minha poesia

Podes lê-la para mim ???....pausadamente!!!??

Para que me recorde que sempre fui vagabundo

Vadio, viajante...

Que percorri meio mundo à tu procura

E tu sempre estiveste perto de mim...

 

 

carlos gaspar 2014

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