NICOLE

Sobre o altar de seus sonhos doirados,
Ela curvou-se à brisa da morte,
Qual pálida flor.
A luz de seus olhos marejados
Apagou-se em seu último e forte
Suspiro d`amor!

Mais linda que o cintilar d`aurora,
Farta da vida e seus desafinos,
Ante tanto engano...
Sentiu no seio que era a sua hora,
Fugindo ao som dos celestes sinos
Do terror humano!

Sepultada em seu cruel abraço,
Suplicou o noivo arrependido
Por sua doçura.
Desfeito do casamento o laço,
Restou agora a este fingido
A imagem impura!

No pensamento sempre a gritar,
Da existência a palavra mais triste
O remorso vil:
- Saudade, Nicole, de te olhar
E saber que o ardente amor existe
Num mundo tão frio!

Saudade de tua voz mimosa,
De teu riso meigo de criança,
Qual uma canção.
De tua alva pele tão cheirosa,
De tu`alma a recender a esp`rança,
Mesmo ouvindo o “Não”!

Ah! Saudade da ternura extinta
Que desfilaste na Terra um dia
Tão angelical.
Acabou-se do pintor a tinta,
Que te pintou cheia d`harmonia
Na tela carnal!

No divino berço ela repoisa
E Deus canta-lhe o casto acalanto
Em fagueiros sons;
Seu amado ao vê-la em qualquer coisa,
Saberá que o solo sob seu pranto
Não merece os bons!

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