Ninguém Chora da Prisão

Ninguém Chora da Prisão

Um dia eu tive amigos, um dia eu fui criança feliz indo pra escola. Minha professora era linda. Houve um tempo que eu lia livros e tinha carteira de identidade. Lembro que tinha uma casa onde eu morava, meus irmãos sorriam pra mim e falavam comigo. Eu era eu num tempo atrás, mas veio um tempo de desespero, um tempo de descobertas, um tempo de más companhias. Hoje eu não sou ninguém, ninguém me vê, ninguém sabe de mim, ninguém me manda cartas, ninguém pergunta o meu nome, ninguém quer saber por que eu estou aqui.

Eu fui envolvido em algum crime e nem sei quem o cometeu. Eu apenas estava passando no lugar errado, na hora errada, com pessoas erradas. Como eu era pobre e preto, e andava com pessoas suspeitas, alguém disse que fui eu. Eu nem mesmo sei o quê fui eu. Só sei que estou apodrecendo vivo. Nem sei quantos anos já faz, nem sei por quanto tempo mais eu vou continuar vivo. Talvez essa vida não me queira vivo, talvez eu deva desistir dessa vida. Meu único prazer agora é comer um prato de feijão com arroz mal cheiroso, e servido com má vontade. Não consigo chorar, pois o ódio que se acumula em mim não me deixa fazer isso. E aqui ninguém pode chorar.

Charles Silva

 

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