NO CEMITÉRIO, O ÉBRIO

Eu canto a vida, amo minha pouca saúde
No limite supremo de minha embriaguez.
Machuco as cordas do meu alaúde...
Aqui sou companheiro e a vida não tem vez.

Sinto as brumas da madrugada em minha tez,
O vento frio rumoreja no escuro céu.
Vejo na lousa o nome de um prisco francês,
E está feliz da vida, também, já morreu.

Não me espanto com uma árvore neste breu,
Mesmo que seja pavorosa e apodrecida,
Nem com o aroma – perfume de quem jazeu –
Tampouco com sua imagem: falta de vida.

Não consigo temer nada – foi a bebida.
A turba me olha atenta – atonia de cruz.
É nobre e bela a lousa de minha querida,
Nem a lua neste jardim emite luz.

Às vezes, embebo as brumas, vomito pus.
Na triste vida sempre fui um renegado.
A única mão `stendida – foi a de Jesus –
Espero muito que um dia eu seja perdoado.

Sou atroz, creio que padecerei calado;
O vinho já não tenho; a saúde também.
Nesta vida estive sempre ébrio e sepultado,
E, feral, não fui visitado por ninguém.

POEMA ESCRITO EM ABRIL DE 2002

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