_No dia dos annos do mesmo Senhor_.

A Minha Muza cansada,
Perdendo os vôos ligeiros,
E ao pé de murchos loireiros
Com razão apozentada,
Hoje, Senhor, animada
Do amor, e da gratidão,
Esquecendo a multidão
De frios cabellos brancos,
Vem, forcejando os pés mancos,
Metter-me a Lyra na mão.

Gratidão seus passos rege;
Quer que em limada Poezia
Venha louvar neste dia
Quem em todos me protege;
Nas cordas de oiro, que elege,
Quer, que invocando as Camenas,
Eu cante as horas serenas
Em que o Ceo piedozo, e justo
Para o lado de hum Augusto
Me fez nascer hum Mecenas.

Eu respondi, que a harmonia
Me fugio co'a mocidade;
E que a sólida verdade
Não depende da Poezia;
Que em proza sempre seguia
Seu acertado conselho;
E que em fim Poeta velho
Por teima querer rimar,
He o mesmo que ir dançar
O vosso ginja, Botelho.[23]

[Nota de rodapá 23: Creado muito velho, tentado com minuetes.]

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