NOVA LUZ! NOVO IDEAL!

Espirito Supremo, d'onde brota
      A luz que eterna os mundos alumia,
      E deixa pelo espaço uma harmonia
                  Echo da tua vóz!
      Inspira-me a assistir, sereno e impavido,
      Ao funebre ruiz do christianismo,
      E d'este inevitavel cataclysmo
                  Salva-te a ti e a nós!

      A Ti, o forte, o sabio, o justo, o symbolo
      De toda a perfeição, a ti importa
      Que d'esta fé, tornada letra morta,
                  Vejamos renascer
      Do mundo novo a crença ardente e rutila,
      Co'o magico fulgor da nossa Ideia,
      O espelho onde melhor se patenteia
                  No mundo o teu poder!

      Ao teu olhar religiões sem numero,
      Com ritos, cultos, cheios de fulgores,
      Desambam, como as petalas das flôres
                  Ao Sol que as reproduz!...
      Que um novo Ideal d'amor, de ti nascido,
      Trajando d'ouro e purpura o horizonte,
      Das sombras de hoje, esplendido desponte,
                  A dar-nos nova luz!...

      Outra verdade, filha d'estes tempos,
      Que venha a nós em nome teu, n'esta hora,
      Matar a sêde ardente que devora
                  Os nossos corações,
      Depois que á intensa luz de mil combates,
      Travados pela fé contra a Sciencia,
      Começa-se a apagar na consciencia
                  O ideal christão!

      A Ti attraes as almas como as aguias
      De monte em monte a prole aos ceus subindo,
      Fazendo com que attinja o espaço infindo
                  Que abarca o seu olhar!...
      De Brahma a Budha, de Moysés a Christo,
      Se fez essa ascenção prodigiosa,
      Ao fim do qual a alma é desejosa
                  De a novos ceus voar!...

      Ah d'esta vacuidade em que se encontram
      Os nossos corações cheios de febre,
      Que uma alma nova irrompa e audaz celebre
                  Suas nupcias d'amor
      Co'o mundo que lhe coube por partilha,
      Passando a co-existir serenamente,
      Harmonica, feliz e resplendente,
                  Como ante o Sol a flôr!...

      Por nós, que não por ti, que és intangivel
      Ás frageis condições da vida humana:
      Perante o aspecto triumphal que emana
                  De toda a creação:
      Convem-nos expurgir do fundo d'alma,
      Da fonte onde se gera o pensamento,
      O cunho de tristeza e desalento,
                  Que imprime o ideal christão!...

      Ha na verdade em tudo o que é belleza,
      E força e vida e amor nas creaturas,
      Desde os astros que brilham nas alturas,
                  Á flôr a nossos pés:
      Tanta porta do ceu a abrir-se á alma;
      Riqueza tanta e tanto amor occulto
      A revellar-te a Ti, que é justo um culto
                  Erguer-lhes outra vez!

      Digamos a verdade: uma semente,
      Que eterna e intacta a arvore resume,
      Com troncos, folhas, flôres e o perfume
                  Que entrega ás virações:
      Encerra em si mais luz, lição mais pratica,
      Mais digna de por nós ser apprendida
      Qual maxima d'amor, e ideal da vida,
                  Que um livro d'orações!

      Tua alma é presa ao mundo que creaste
      E o mundo, cuja orbita infinita
      Abrange a Terra, e os Ceus, onde palpita
                  D'amor teu coração,
      Tem jus a que façamos d'elle a Biblia
      Eterna, aonde apprenda a Humanidade,
      Sedenta de Justiça e de Verdade,
                  A nova religião!...

      Ah tens a executar teus vastos planos
      D'amor, e de Justiça, aurifulgentes,
      Fanaticos aos mil, e mil videntes,
                  E innumeros heroes,
      De varia estirpe: o artista, o justo, o sabio,
      Buscando interpretar teu pensamento;
      E encontram pelo azul do firmamento
                  No mesmo afan os soes!...

      Que á tua vóz as gerações extinctas
      Resurjam e contemplem com surpreza
      Esta obra immensa, cheia de belleza,
                  Que em multiplo labor,
      As novas gerações estão fazendo!...
      Que em nome da Verdade triumphante,
      Unisono na Terra se alevante
                  Este hymno em teu louvor!

1889.

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