NUM ALBUM
Autor: Bulhão Pato on Tuesday, 29 January 2013
Venham ver este retrato, E respondam se o pintor, Que desenhasse melhor, O tirava mais exacto. Eil-a! saltando da tela, Viva, inteira, palpitante! Pallido um pouco o semblante, A boca graciosa e bella, Quando o sorriso a desflora, É como a rosa da aurora Abrindo ao sopro de abril! É mais! é ver num momento, Quanto pode o pensamento Sonhar de casto e gentil! O cabello ondado e fino, Negro como a noite escura, Cai no collo alabastrino, E faz resair a alvura Do rosto fascinador. Os olhos... oh! neste instante, Tremo, hesito, não ha cor, Não ha luz por mais brilhante, Que possa emfim imitar O reflexo scintillante Da chamma do seu olhar! Chamma que ás vezes traidora, Se occulta na sombra escura, Á espera que chegue um'hora, Hora de morte ou ventura!, Em que possa deslumbrar, Com mais fogo e com mais vida, O desvairado que ousar, Miral-a sem recear, Pela ver assim sumida! Terminou?... e eu que julgava Cobrir-me de eterna gloria, Quando tanto me esmerava Na minha copia ideal! Agora que na memoria, (Ou antes no coração) Tenho vivo o original, Vejo bem que não ha mão, Por mais que saiba pintar, Capaz de estampar na tela A expressão graciosa e bella D'essa face, e d'esse olhar! Abril de 1859.
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