NUM ALBUM
Autor: Bulhão Pato on Monday, 18 February 2013
Onde o meu amigo e joven poeta, D. Thomaz de Mello, tinha escripto uns
versos.
No reverso da folha onde escrevo,
Um cantor jovenil pulsa a lyra,
E magoado, e sentido, suspira,
Com saudosas memorias d'amor!
Na cadencia da lettra singela,
Qual murmurio de branda corrente,
Transparece sua alma innocente,
Toda vida, perfume, e calor!
Variegado, risonho, brilhante,
Inda agora na flor da innocencia
Vendo o mundo, sorri-lhe a existencia
Atravez do seu prisma gentil:
Cuida extinctas ficções encantadas,
Crê perdido o seu sonho d'amores,
Julga vêr desbotadas as flores
Que adornavam sua harpa infantil!...
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Ai! poeta! ai de ti! que saudade,
Que saudade tão funda e sentida
Has de ter d'esses annos da vida,
Quando os vires ao longe ficar!
Que saudade tão funda do tempo
Em que tinhas sentido saudade,
Has de ter quando a triste orfandade
Dos affectos tua alma enluctar!
Ouve pois joven bardo que a lyra
Pulsas hoje com tanta amargura;
De illusões, de poesia e ventura,
Enche agora teus annos em flor.
Que são estes ephemeros sonhos,
Os que vem derramar grata essencia
Sobre a tarde da nossa existencia
Dar-lhes vida, perfume, e calor!
Agosto de 1854.Género: