O acaso é noturno tanto quanto o medo do escuro

Sempre quando lembro da efemeridade do mundo, o medo apossa-me da cabeça aos pés. Tudo pode acontecer! O mundo passa a mil volts por segundo, e a lei da entropia alvitra no fundo dos meus pensamentos apenas destroços; sinto que ao caminhar, cairei; se o Estado enlouquecer, a fome comerá minhas certezas; a falta de abrigo, tornar-me-ia um desabrigado das profecias. Toda vez pensante rente ao medo das coisas, logo vejo não haver possibilidades sólidas. O preconceito, as novas formas de controle, e toda a miséria humana podem voltar e sucumbir a sociedade.

Se eu pensar pela tragédia, minha vida pelo drama se confirma. Não é correto olhar apenas o acaso, mas não consigo! Habituei-me ao pessimismo. Sou um Sísifo caminhando com uma pedra fatigando meus ossos: meu cérebro extenuado pela lógica e pela história faz do caminho uma tortura ao caminhar. Os pés descalços na estrada da existência oprimem meus dedos da penúria jornada.

Nada é certo, nada é puro como a filosofia pensa ser, e por isso Deus causa-me desconforto. Reencarnação, paraíso, inferno, morte, aniquilação, são substantivos que rodeiam o rodopiar do mundo: reviver os medos não é bom; estar no céu deve ser aterrorizante; o inferno só prolonga a dor de agora; mas a morte, a morte só é um conceito e que nada a entendemos. 

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