O Antônimo de Antônio

Eu não estou triste, juro,

Mas me irrita o barulho.

Não estou triste, Júlia,

Se bem que nada me felicite,

Um punhado de conversa,

Ou mesmo um dedo de prosa,

Realmente se tornou muito difícil.

Não estou triste, não muito,

Só que não quero sair,

Não gosto mais de trabalhar,

Prefiro dormir.

Ou será que sim?

Estou triste pra burro?

Talvez eu deva aceitar

Que o cinza me rendeu,

Meu vigor encolheu

E que é preciso caminhar.

Não para qualquer lugar

Como era antes,

Preciso seguir adiante,

Agora, de mãos dadas

Não apenas com o meu nome,

Que nunca deixará de ser Antônio,

Sim, tal como, para saber quem sou

E não como um nômade.

Preciso disso,

Não do homônimo,

Para vencer a ruína,

Ser ao menos sereno

E fazer o enterro

Dessa tristeza indigente,

Ser, aos poucos,

O antônimo de mim mesmo.

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